A Comunicação Social e a forma de "vender" conceitos ideológicos reaccionários
A TSF tem andado a colocar algumas perguntas aos candidatos a primeiro-ministro. Uma das que foram colocadas referia-se ao eventual limite ao investimento público e à carga que tal traria sobre as gerações futuras.
Antes de tecer considerações sobre o investimento público, se sim, se não, em que condições, etc, não posso deixar passar mais uma tentativa, a meu ver totalmente criminosa e que levaria à guerra geracional se não frontalmente combatida, que é a da carga que o investimento público traria ou trará sobre as gerações futuras, as dos nossos filhos e netos.
Qual é o investimento que nunca é pago TAMMBÉM pelas gerações futuras? Apenas o que se traduz em bens transaccionáveis e de curto prazo, todos os outros serão pagos por diversas gerações. Quer se trate de um hospital, de uma universidade, de um porto, de uma linha férrea, todos são construídos para durarem o tempo de mais de uma geração. Usufruirão deles não só as gerações actuais como as futuras. Daí ser totalmente “estúpida” a colocação da questão nos termos em que o é. Tal como nós, a geração que hoje anda pelos 60 anos, pagou e paga investimentos feitos nos tempos dos nossos pais, assim os nossos filhos deverão pagar investimentos feitos hoje, e os seus filhos pagarão investimentos feitos daqui a 10, 20 anos. E tal só não aconteceria se tais investimentos o fossem na regra do curto prazo. Mas, haverá algum governante que construa um hospital a pensar que ele só durará 10, 20 anos? Não. Bastará lembrar os hospitais universitários, como o de Santa Maria, em Lisboa, construído há mais de 50 anos. Quantas gerações?
Mas considerar como meramente "estupidez" a utilização de tal argumentário e não ver o essencial, que é o da instilação de uma determinada ideologia, onde se "prega" o cada um por si, logo o "eu contra os outros"! Eis a verdadeira razão!
Quanto à pergunta, na essência existem 2 pontos de vista:
-o primeiro, partilhado pelos defensores do capitalismo puro e duro, seja na versão liberal do "quero, posso e mando" patronal, defendida por Pedro Passos Coelho e por Paulo Postas, sem esquecer a versão delicodoce da actual e anteriores direcções do PS, em que ao Estado apenas reservam o papel de espectador de facto, por muitas entidades reguladoras criadas. Para esse grupo, aparentemente algo heterogéneo, o investimento público deve ser limitado, com a variante da limitação desaparecer quando se trate de transferir dinheiro do estado para os grupos económicas, como é o caso das afamadas Parcerias Público-Privados, iniciadas por Cavaco Silva no tempo da construção da Ponte Vasco da Gama e levadas à exaustão pela direcção de Socrates, não esquecendo Durões e Portas, mais os seus submarinos, helicópteros e sistemas de comunicações.
-o segundo é partilhado pelos defensores do socialismo e da participação do Estado na vida económica via empresas estatais nos sectores considerados estratégicos - banca comercial, telecomunicações, energia, transportes, siderurgia, etc. Estes não vêem o limite a não ser o do interesse estratégico de cada projecto concreto para a população, não ignorando a capacidade ou não de o pagar. Cada hospital, cada escola, cada troço de ferrovia, cada barragem, são julgados em primeiro lugar pelo interesse estratégico para a comunidade nacional, não se podendo nem se devendo ignorar impactos em países vizinhos. Depois, ou existe a capacidade de o pagar no tempo de vida útil ou ter-se-á que reequacioná-lo, podendo a decisão ser de adiar ou mesmo de não efectuar tal investimento.
Se analisássemos apenas a capacidade de pagar cada investimento no tempo de vida da geração que o construiu, quantos hospitais, quantas escolas, quantas estradas teriam ficado por construir, com o inevitável mau serviço prestado às populações servidas? Ou será que apenas pretendem atirar netos contra avós e filhos contra pais? Para daí tirarem dividendos no curto prazo, com votações contra quem defendo o investimento público estratégico? Ou a médio prazo, para prepararem tais "jovens de hoje" para um modelo social tipo usamericano, em que largos milhões de cidadãos não têm acesso à saúde, ao ensino e à reforma após uma vida de trabalho, tudo a bem da saúde da economia dos ..... banquerios e demais parasitas sociais?
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